Visões
William Blake
Introdução e tradução: José Antonio Arantes
Edição bilíngue (Português/Inglês)
428 páginas | 15,5x22,5 cm
ISBN: 978-6-555-19058-8
Pela primeira vez no Brasil a poesia completa de William Blake
Talvez o poeta
mais original da literatura inglesa, William Blake foi uma
espécie de símbolo das manifestações socioculturais dos anos 1960 e 1970. Ao
lado da psicologia de Carl Jung e Sigmund Freud, da filosofia e da religião
orientais, das experiências da geração beat e do flower-power,
via-se em sua poesia a expressão de uma nova era de Aquário, a rejeição de uma
ordem mundial fundada no materialismo em detrimento da espiritualidade. Passado
meio século, aquelas manifestações são história, ou adquiriram outras formas,
mas a ordem mundial permanece, de ponta-cabeça, mais materialista e mais bruta.
E a poesia de Blake continua instigante
expressão dos valores humanos, ainda mais relevante.
Visões assinala essa relevância: reúne onze livros que Blake publicou de 1789 a 1795, com os quais procura evidenciar
a coerência do essencial da obra e afastar a distorcida percepção de insanidade
do autor. Os poemas testemunham a formação e o amadurecimento de sua visão de
mundo, num fértil período de quase sete anos, quando na casa dos trinta: aqui o
leitor encontra dos poemas líricos das Canções de Inocência e Experiência
até o que se convencionou chamar de “profecias menores”.
O Livro de Thel é o
primeiro livro profético menor iluminado, seguido de Canções de Inocência,
ambos de 1789. Entre 1790 e 1793, Blake escreveu, gravou e imprimiu O
Matrimônio do Céu e do Inferno e Canções de Experiência
(posteriormente, combinou as duas Canções num único volume, com o
subtítulo “Mostrando os Dois Estados Contrários da Alma”). Visões das Filhas
de Álbion, de 1793, é em geral considerado um “estado contrário” de Thel,
em que a inocência convive com o desejo sexual. No mesmo ano, Blake publicou América,
uma Profecia, tido como seu poema político mais importante.
A partir de 1794, Blake
embarcou na sequência dos poemas-profecias menores, que o prepararam para os maiores
(Milton e Jerusalem, escritos e gravados quase ao mesmo tempo
entre 1804 e 1820). O primeiro deles é Europa, uma Profecia, uma
narrativa política, seguido de O Livro de Urizen. A Canção de Los,
O Livro de Ahania e O Livro de Los, todos de 1795, compõem a
“Bíblia do Inferno” prometida em O Matrimônio do Céu e do Inferno:
“Possuo também A Bíblia do Inferno, que o mundo há de possuir, quer queira,
quer não”.
Na “Bíblia do Inferno” estão
os personagens mitológicos Urizen e Los, cruciais para a mensagem de Blake: Los
representa o Poeta e a Imaginação humana; Urizen, a encarnação da razão, o
criador de leis tirânicas; ambos em constante conflito. O escritor Anthony
Burgess disse com clareza: “A razão, na verdade, é perigosa, assim como é a
ciência; se todos nós vivermos num estado de liberdade individual plena,
despreocupados com as leis, confiando no poder da percepção e, num nível
inferior, no instinto, alcançaremos o céu na terra, que Blake chama de
Jerusalém no prefácio de Milton”. Na terminologia blakeana, alcança-se a
plenitude espiritual através da imaginação. “Se as portas da percepção
estivessem limpas, tudo se mostraria ao homem tal como é: infinito.”
Pouco lido e ignorado por seus
contemporâneos, Blake foi “descoberto” vinte anos após sua morte, em 1827,
quando impressões tipográficas dos poemas começaram a aparecer. Mas jamais foi
popular, sempre foi controverso, mesmo entre outros poetas. Thomas Stearns
Eliot, por exemplo, reconheceu nele uma “honestidade contra a qual o mundo
inteiro conspira, porque é desagradável. A poesia de Blake tem o desagrado da
grande poesia”. Quase um elogio, porque, para Eliot, essa honestidade era
limitada por sua falta de educação literária, o que o tornava um “ingênuo”.
Blake, concluiu Eliot, tinha
“uma notável e original sensibilidade para a língua e a musicalidade da língua,
e o dom da visão alucinada. Se estes tivessem sido controlados por um respeito
pela razão impessoal, teria sido melhor para ele”. Faltava a seu gênio “uma
estrutura de ideias tradicionais e reconhecidas que lhe teriam impedido de
entregar-se a uma filosofia própria, e assim concentrasse a atenção nos
problemas do poeta. [...] A concentração resultante dessa estrutura de
mitologia, teologia e filosofia é uma das razões pelas quais Dante é um clássico,
e Blake apenas um poeta de gênio”.
Eliot falava em defesa das
tradições latinas, a seu ver fundamentais para a cultura do Ocidente, ciente de
que eram exatamente o que Blake rechaçava — e no entanto, dogmático, deu o
veredito. Blake decerto não lhe teria dado ouvidos. “A verdade jamais será dita
de modo compreensível sem que nela se creia. Suficiente! ou Demasiado.”
Especificações Técnicas | |
Autor(a) | William Blake |
Tradutor(a) | José Antonio Arantes |
Nº de páginas | 428 |
ISBN | 978655519058-8 |