Tentações de Santo Antão, As
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AS TENTAÇÕES DE SANTO ANTÃO
Gustave Flaubert
Tradução: Luís de Lima
Inclui textos de Paul Valéry,
Contador Borges e Denis Bruza Molino
com 42 reproduções das litografias de
Odilon Redon
2. edição
256 páginas | 15,5x22,5 cm | PB
ISBN: 978-6-555-19072-4
Pode-se
ler este livro como uma alegoria: o deserto em que vagueia o anacoreta, por
entre penhascos e areia, tudo povoado por fantasmagorias e alucinações, é
também o da literatura, aquele espaço literário, já esvaziado, repleto de
tentações, e que Maurice Blanchot, num gesto de pura e absoluta genialidade,
soube ler, de modo tão preciso quanto complexo, como etapa decisiva na formação
da chamada literatura moderna.
Alias,
seria toda uma outra e longa história pensar no deserto como espaço formador da
própria literatura: neste caso, deserto é, ou pode ser, sinônimo de recusa e de
negatividade, uma das categorias fundamentais, como se sabe, do moderno em
literatura e nas artes.
É um arco
tenso: desde o que há de desértico na Mancha, de Cervantes e do comovente
Cavaleiro da Triste Figura, até aquele dos tártaros de Buzatti. Ou aquele capaz
de provocar o aparecimento de um pomar às avessas, como está no João Cabral de
Melo Neto de Psicologia da composição.
A tensão
do arco se desfaz, no entanto, pela entrega às tentações da positividade que
são os significados sem risco: a aceitação da literatura que diz, com certeza,
algumas coisas já consumidas pela tradição literária.
Flaubert
sabia disso e a primeira grande tentação era aquela do conhecimento
enciclopédico que viria eliminar o deserto por uma acumulação impiedosa de
livros e saberes cuja maior crítica ele haveria de realizar em Bouvart e
Pécouchet.
Este
livro deixa ver, de modo incipiente, como cabe a obras iniciais, traços dessa
resistência e, por que não dizer, dessa luta sobre-humana em prol da recusa e
do risco.
Não é a
isso que se chama de flaubertiano, por excelência, a essa luta pelo
esvaziamento de um espaço que deve ser assumido pelo rigor quase suicida da
linguagem?
A
história foi contada em detalhes por esse admirável Maxime du Camp no quinto
capítulo de suas ricas Souvenirs littéraires (1822-1894), intitulado
precisamente “La tentation de Saint Antoine”.
Gustave
Flaubert convocara dois amigos, Maxime e o poeta Louis Bouilhet, para ouvir,
sem direito a interrupções, a leitura do novo livro que ele terminara de
escrever, depois de anos de trabalhos que envolviam pesquisas históricas e
religiosas volumosas e rigores estilísticos. Trabalhos tão exigentes que
chegaram a por em perigo a saúde do jovem escritor, o que motivará a viagem que
fará, em seguida, ao Oriente.
Reuniram-se
no retiro flaubertiano de Croisset e, com paciência e contenção, submeteram-se
à audição do longo texto.
“A
leitura, diz Du Camp, durou trinta e duas horas; durante quatro dias ele leu,
sem esmorecer, de meio-dia a quatro horas, de oito horas a meia-noite. Foi
estabelecido que nos reservaríamos nossa opinião e que não a expressaríamos
senão depois de ter ouvido a obra inteira.”
O
veredito acerca do manuscrito foi anunciado por Louis Bouilhet e ele foi
arrasador: “Pensamos que é preciso lançá-lo ao fogo e nunca mais voltar a falar
dele.”
Os
argumentos para um julgamento tão radical são analisados pelo próprio Du Camp e
eles se resumem em que não podiam entender uma narrativa que fugia tão
completamente dos princípios da verossimilhança realista, terminando por
dificultar a compreensão e o entendimento. Ou, como diz Du Camp: “Sob o
pretexto de levar o romantismo ao extremo, Flaubert, sem que ele disso duvidasse,
voltava atrás, voltava ao abade Reynal, a Marmontel, a Bitaubé mesmo, e caía na
difusão.”
Muito
mais tarde, Flaubert fará uma revisão do texto. Não antes de tentar outras
obras mais de acordo com as críticas dos dois amigos, como Madame Bovary
e Salambô. Precisamente aquelas obras que Paul Valéry, no texto usado
aqui como prefácio, afirma oferecer menos encantos do que as Tentações...
É a obra
refeita que agora se lê nesta edição, enriquecida pelas obras de Odilon Redon e
pelos ensaios de Paul Valéry, Contador Borges e Denis Bruza Molino, assim como
pela competente tradução de Luís de Lima, bem na linha de Novembro, do
mesmo autor, publicado pela Iluminuras.
JOÃO
ALEXANDRE BARBOSA
Especificações Técnicas | |
Autor(a) | Gustave Flaubert |
Tradutor(a) | Luís de Lima |
ISBN | 978655510072-4 |
Altura | 155x225cm |