Por causa do pior
- Autor: Dominique Fingermann E Mauro Mendes Dias
- Disponibilidade: Em Estoque
- R$ 59,00
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A
idéia de se dirigir ao pior conta com pouca aceitação. É
com essa frase de impacto que Mauro Mendes Dias, introduz este belo livro,
fruto de um seminário conjunto proferido por ele e Dominique Fingermann. O pior
talvez não conte mesmo com "muita aceitação" e a proposta seja de
fato "atrevida" come afirma Fingermann, mas tratar do pior não só é
fiel à ética da psicanálise, como esse "atrevimento" é mais do que
bem-vindo na medida em que, convoca o analista a ler o político e não permite
confundir silêncio do analista com a sua omissão em relação acontecimentos do
mundo.
O legado que nos deixou
Freud e toda sua obra atesta isto, uma vez que muitos dos avanços Freudianos
foram respostas às injunções da História, que Ihe permitiram testar a
operatividade de seus conceitos psicanalíticos. O descentramento efetuado pela
psicanálise, da ordem do mundo para a realidade psíquica, implica um
deslocamento do ser no mundo para o ser do desejo e coloca a questão da
implicação do sujeito no político, que Lacan aprofundou em sua articulação da
psicanálise em intenção com a
psicanálise em extensão.
Por
causa do pior, se inscreve nessa linhagem e convoca os analistas a
assumirem a responsabilidade que Ihes cabe face aos problemas que não cessam de
surgir na civilização, exacerbando o mal-estar para o qual Freud nos alertara.
O século XX foi o dos totalitarismos que se caracterizaram pela tentação do
bem, representando um acontecimento maior, coletivo e individual, no homem
deixou de ser homem para si mesmo e para o outro. Dos conflitos que marcaram
esse século, herdamos um ódio irredutível e insolúvel que não cessa de se
repetir, a ponto de começarmos o atual à mercê de reivindicações identitárias e
etnocêntricas de extrema violência, onde o ódio dirigido ao outro pretende ir
além da morte, querendo abolir a própria noção de humano, fazendo do humano
"outra coisa", como tão bem soube mostrar Blanchot, um dos
"passadores do pior" trabalhados aqui.
Neste início do século XXI o
político vem sendo, cada vez mais parasitado pelo religioso, dando razão a
Lacan que em sua reavaliação do discurso da ciência, nos alertou para o fato de
que, se a religião viesse a triunfar numa aliança com a ciência, não haveria
como evitar o pior, esse pior que dá nome ao livro, e cuja mais perfeita
tradução é o terrorismo em sua forma atual, com seus homens bombas parecendo
gozar da própria morte.
Este livro, pelos temas
abordados, é um convite ao pensamento, cumprindo desse modo o que, a meu ver,
talvez seja a maior função da psicanálise dilatar os limites do pensável
autorizado num determinado momento numa determinada sociedade, fazendo surgir
pensamento lá onde ele antes não existia. Espero que seus autores continuem em
sua ousadia.
Caterina Koltai
Especificações Técnicas | |
Autor(a) | Mauro Mendes Dias, Dominique Fingermann |
Nº de páginas | 176 |
ISBN | 8573212152 |
Largura | 14cm |
Altura | 21cm |