Horror sobrenatural em literatura, O
- Autor: H. P. Lovecraft
- Disponibilidade: Compra Antecipada
- R$ 65,00
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O apelo do macabro espectral é geralmente restrito
porque exige do leitor um certo grau de imaginação e uma capacidade de distanciamento
da vida cotidiana. São relativamente poucos os que se libertam o suficiente do
feitiço da rotina diária para responder aos apelos de fora, e as histórias
sobre emoções e acontecimentos ordinários ou distorções sentimentais comuns
dessas emoções e acontecimentos sempre ocuparão o primeiro lugar no gosto da
maioria; com justeza, talvez, já que o curso dessa matéria sem nada de
particular, constitui a parte maior da experiência humana.
Mas a
sensibilidade está sempre em nós e, às vezes, um curioso rasgo de fantasia
invade algum canto obscuro da mais dura das cabeças, de tal modo que soma
nenhuma de racionalização, reforma ou análise freudiana pode anular por inteiro
o frêmito do sussurro do canto da lareira ou do bosque deserto. Está presente
nisso um padrão ou tradição psicológica tão real e tão profundamente enraizado
na experiência mental quanto qualquer outro padrão ou tradição da humanidade;
contemporâneo do sentimento religioso e em estreita relação com muitos aspectos
dele, e uma parte integrada demais em nossa herança biológica mais profunda
para perder sua contundência sobre uma minoria muito importante, embora
numericamente pequena, de nossa espécie.
(...) Como recordamos a dor e a ameaça da morte mais
vivamente que o prazer, e como nossos sentimentos para com os aspectos benfazejos
do desconhecido foram, desde o início, captados e formalizados por rituais
religiosos convencionais, coube ao lado mais escuro e maléfico do mistério
cósmico reinar em nosso folclore sobrenatural popular. Essa tendência é
naturalmente reforçada também pelo fato de que incerteza e perigo são eternos
aliados íntimos, transformando qualquer tipo de mundo desconhecido num mundo de
perigos e possibilidades maléficas. Quando se sobrepõe a esse senso de medo e
de mal o inevitável fascínio do maravilhoso e da curiosidade, nasce um conjunto
composto de emoção aguda e provocação imaginativa cuja vitalidade deve
necessariamente durar enquanto existir a raça humana. Crianças sempre terão
medo do escuro, e homens de espírito sensível a impulsos hereditários sempre
tremerão ante a ideia dos mundos ocultos e insondáveis de existência singular
que podem pulsar nos abismos além das estrelas, ou infernizam nosso próprio
globo em dimensões profanas que somente o morto e o lunático conseguem
vislumbrar.
(...) Esse tipo de literatura do medo não deve ser
confundido com um outro superficialmente parecido, mas muito diferente no âmbito
psicológico: a literatura do simples medo físico e do horrível vulgar. Esses
escritos decerto têm seu lugar, assim como a história de fantasma convencional
ou mesmo excêntrica ou humorística em que o formalismo ou uma piscadela
cúmplice do autor retira o verdadeiro sentido de morbidez sobrenatural; mas
essas coisas não são literatura de medo cósmico em seu sentido mais puro. A
história fantástica genuína tem algo mais que um assassinato secreto, ossos
ensanguentados, ou algum vulto coberto com um lençol arrastando correntes,
conforme a regra. Uma certa atmosfera inexplicável e empolgante de pavor de
forças externas desconhecidas precisa estar presente; e deve haver um indício,
expresso com seriedade e dignidade condizentes com o tema, daquela mais
terrível concepção do cérebro humano — uma suspensão ou derrota maligna e
particular daquelas leis fixas da Natureza que são nossa única salvaguarda
contra os assaltos do caos e dos demônios dos espaços insondáveis.
H.P. Lovecraft
Especificações Técnicas | |
Autor(a) | H. P. Lovecraft |
Tradutor(a) | Celso M.Paciornik |
Nº de páginas | 120 |
ISBN | 9786555190328 |
Largura | 13,5 |
Altura | 22,5 |